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Qual a cor que existe em você?


Você já deve saber que pensamentos e emoções estão intimamente ligados e um influencia o outro. Todos os dias vivemos um monte se sensações e elas são associadas a nossa mente numa imagem-pensamento abstrata. Não tem como ter lógica nas emoções, o lado esquerdo do cérebro não desenvolveu esta habilidade e cabe ao lado direito criar um “pensamento” abstrato para registrar a emoção vivida. Da mesma forma, quando pensamos em alguém ou em alguma coisa, vemos uma imagem, uma foto, uma paisagem também cria-se uma associação com sentimento que também está registrado em nós. E agora eu te pergunto. Você percebe a sensação de ganância em ver uma família brigando por conta de uma herança? Percebe a chance de infidelidade ao ver um namorado ou namorada dançando com outra pessoa numa festa em que seu parceiro ou parceira não está presente? Agora em vez de assistir de fora, se sinta parte da família brigando pela herança, se sinta no lugar de quem está dançando. Isso muda alguma coisa? Cada um que vivencia estas situações vão vivenciar as sensações com mais ou menos intensidade emocional por conta de um detalhe importante: A quantidade de vezes em que isso foi registrado em sua memória, a frequência e o nível de importância dado ao fato vivido ao longo da vida.

Para ilustrar melhor, recentemente fui ajudar a fazer algumas camisetas tie dye onde vamos pigmentando a roupa toda enrolada e amassada que depois de seca e esticada dá o resultado espiralado ou manchado aleatoriamente. Bem, quanto mais vezes eu aplicar a tinta num mesmo lugar mais intensa essa cor ficará neste pedaço do tecido. Se eu usar mais vermelho que outras cores o efeito final será avermelhado, se usar mais verde será esverdeado... enfim... o resultado (memória) depende da intensidade, tipo e quantidade das cores aplicadas.

Pois bem, voltando ao exemplo da ganância e da infidelidade... Vamos considerar que a ganância tenha a cor verde e a infidelidade vermelha. As camisetas somos nós e as machas tie dye são as nossas memórias das experiências vividas. Nós vamos considerar o nível de ganância da briga por herança a partir da minha experiência com a cor verde impregnada em minha camiseta. Quanto mais verde eu tiver em mim, mais vou entender sobre o assunto ganância. O mesmo vale para a infidelidade, quanto mais experiência eu tiver vivido com a cor vermelha, mais saberei identificar a infidelidade. Então nossa capacidade de interpretar uma situação depende da minha experiência e não a da outra pessoa que está do outro lado da história. E se eu disser que existe uma grande chance de não haver nem ganância, nem infidelidade nas cenas que apresentei você acreditaria?

Já pensaram que o motivo da briga pela herança seja para promover partes justas para todos ou permitir que um irmão tenha um pouco mais devido a sua necessidade ou do seu mérito em que os demais herdeiros julgarem justo? Já pensaram que a dança era entre dois irmãos?

Não tenho a intenção de condenar ninguém que percebeu a ganância ou a infidelidade, como disse, isso depende das suas experiências, seu modo de ver e sentir o mundo a sua volta. Mas as pessoas que não percebem a ganância ou a infidelidade é porque não tem essas cores em sua camiseta. Pode ser uma camiseta que não tem nada de vermelho ou verde, mas está cheia de amarelo, azul, rosa... Ou ainda uma camiseta transparente ou até mesmo desbotada em que as cores foram se harmonizando numa mistura só, num único tom.

Toda essa historinha contada foi para falar de uma coisinha chamada JULGAMENTO. Estamos sempre olhando as situações que envolvem as outras pessoas e identificando falhas, erros, injustiças e diversas outras atitudes que só são percebidas porque eu reconheço em mim. Também estão estampadas em meu ser. Se eu nunca tivesse vivido uma situação semelhante não conseguiria ver a ganância e a infidelidade. Vejam as culturas indígenas. Vejam como partilham e se organizam em comunidade. Será que existe ganância aí? Imagine uma tribo de amazonas, só vivendo mulheres, onde a dança é sagrada e compartilhada por todas. Será que vão julgar uma possível traição ao ver alguém dançando?

Enfim, o que importa aqui é identificar que o julgamento sempre é feito a partir de quem julga e o peso dado nunca é o mesmo da outra pessoa. Conta a história que os portugueses chegaram ao Brasil e já trataram de “educar” os índios porque estavam nus. Usar pesos diferentes numa balança sempre fará um dos lados estar acima ou abaixo e isso não é justiça. Não é equilíbrio. O melhor a fazer é olhar pra sua camiseta e harmonizar suas cores. Aceitar que existe vermelho, verde, amarelo e todas as demais cores porque isso é sinal de aprendizado. A camiseta transparente que citei acima é de uma inocente criança que não viveu muita coisa e não foi tingida pelas emoções muitas vezes doloridas que nos ensinam o que é viver. Já a desbotada é da maturidade adquirida por tanto usar a camiseta. Façamos nossas camisetas a partir das tintas que temos, vamos embelezar nossas vidas e assim transmitir mais beleza para todos que nos cercam. Agora parafraseando mais um ensinamento de Jesus: Em vez de olhar o pingo de tinta na camiseta do outro olhe para a mancha que está na sua!

Bora fazer tie dye, mas cuidado com as manchas de tinta... Minha casa tá cheia de manchas por toda parte, se alguém souber como limpa isso do chão me avise por favor. Gratidão!


Por Robert Casemiro

 
 
 

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